Efeito de Salinização de solos agrícolas devido a rega mal aplicada e seus processos. Explicar como decorre o processo de salinização do solo
2.2. Processo de
Salinização dos Solos
3. A qualidade da
água e seus efeitos no solo
3.1. Efeito dos sais
sobre o solo
4. Efeito dos sais
nas plantas
5. Recuperação de
Solos Salinizados
6. Como evitar e
controlar a salinização
1.
Introdução
A
agricultura irrigada depende tanto da quantidade como da qualidade da água. A
importância da qualidade da água só começou a ser reconhecida a partir do
início deste século. A falta de atenção a este aspecto foi devido à
disponibilidade de águas de boa qualidade e de fácil utilização, mas esta está
mudando em vários lugares, em função do aumento de consumo por águas de qualidade,
restando como alternativa o uso de águas de qualidade inferior
O
uso da irrigação tem contribuído, significativamente, para o aumento da
produtividade agrícola além da incorporação, ao sistema produtivo, de áreas
cujo potencial para exploração da agricultura é limitado, em razão de seus
regimes pluviais. Por outro lado, a irrigação tem causado alguns problemas ao
meio ambiente. Dentre eles, destaca-se o uso inadequado da água salina e/ou
sódica resultando na perda da capacidade produtiva do solo. A salinidade da
água provoca alterações nas propriedades físico-químicas do solo (RHOADES et
al., 1992, citados por LIMA, 1998).
A
acumulação de sais na rizosfera prejudica o crescimento e desenvolvimento das
culturas, provocando um decréscimo de produtividade e, em casos mais severos,
pode levar a um colapso da produção agrícola. Isto ocorre em razão da elevação
do potencial osmótico da solução do solo, por efeitos tóxicos dos íons
específicos e alteração das condições físicas e químicas do solo (LIMA, 1998).
Os
sais são transportados pelas águas de irrigação e depositados no solo, onde se
acumulam à medida que a água se evapora ou é consumida pelas culturas. Os sais
do solo e da água reduzem a disponibilidade da água para as plantas, a tal
ponto que afetam os rendimentos das culturas. Nem todas as culturas respondem
igualmente à salinidade, algumas produzem rendimentos aceitáveis a níveis altos
de salinidade e outras são sensíveis a níveis relativamente baixos. Esta
diferença deve-se à melhor capacidade de adaptação osmótica que algumas
culturas tem, o que permite absorver, mesmos em condições de salinidade, maior
quantidade de água (AYERS & WESTCOT, 1991).
1.1.Objectivos
1.1.1.
Objectivo
geral
Ø Descrever
o efeito de salinização de solos agrícolas devido a rega mal aplicada e seus
processos.
1.1.2.
Objectivos
específicos
Ø Explicar
como decorre o processo de salinização do solo
Ø Relacionar
a qualidade de água com seus efeitos no solo e nas plantas
Ø Apresentar
alternativas para evitar, controlar e recuperar solos salinizados pela ma
aplicação da rega.
2.
Contextualização
A
salinidade pode ser definida como a ocorrência de excesso de sais solúveis,
enquanto que o teor de sódio trocável é a capacidade que o cátion sódio (Na+)
tem de adsorver a estrutura da argila que compõem o solo, em horizontes ou
camada superficiais, afetando o desenvolvimento vegetal. O efeito da salinidade
sobre o crescimento e o desenvolvimento das plantas é um assunto discutido em
vários países, principalmente, nos que apresentam regiões áridas e semiáridas.
Solos
normais podem se tornar improdutivos se receberam sais solúveis em excesso
devido a irrigações mal conduzidas com águas salinas. Mesmo com um bom controle
da qualidade da água de irrigação (o que raramente é feito na prática) há um
contínuo resíduo de sais no solo (SOUZA, 1995).
Dentre
as características que determina a qualidade da água para a irrigação, a
concentração de sais solúveis ou salinidade é um fator limitante ao
desenvolvimento de algumas culturas (BERNARDO, 1996).
O
objetivo principal da irrigação é proporcionar às culturas no momento oportuno,
a quantidade de água necessária para seu ótimo crescimento e, assim, evitar a
diminuição dos rendimentos, provocada pela falta de água durante as etapas de
desenvolvimento sensíveis à escassez. Com as irrigações, no entanto, os sais
contidos na água acumulam-se na zona radicular, diminuindo a disponibilidade de
água e acelerando sua escassez. A compreensão do processo de salinização,
permite encontrar formas de evitar seus efeitos e diminuir a probabilidade de
redução de seus rendimentos (AYERS & WESTCOT, 1991).
2.1. Salinização do solo
No
solo, os efeitos da salinidade no desenvolvimento vegetal provem de alterações
nas suas propriedades químicas e físicas. Em relação às propriedades químicas,
o aumento das concentrações de sais e sódio trocável, ocasiona a redução de sua
fertilidade e, em longo prazo, pode levar a desertificação (D’ALMEIDA et al.,
2005).
O
efeito do excesso de sais ocorre principalmente pela interação eletroquímica
entre os sais e a argila (SERTÃO, 2005). A alta condutividade elétrica
verificada em solos salinos se devem as altas concentrações de sais, podendo
restringir a absorção de nutrientes, interferir no desenvolvimento das plantas
e reduzir a níveis antieconômicos, em função da elevação do potencial osmótico
(MENDES et al., 2008). A implicação prática da salinidade sobre o solo é a
perda da fertilidade e a susceptibilidade à erosão, além da contaminação do
lençol freático e das reservas hídricas subterrâneas.
Ademais,
a salinidade afeta também as propriedades físicas do solo, provocando
desestruturação, aumento da densidade e redução das taxas de infiltração de
água no solo pelo excesso de íons sódicos (RHOADES et al., 2000). O sódio
aumenta a espessura da dupla camada iônica (RIBEIRO et al., 2009). A principal
caracterização desse efeito é a expansão da argila quando umedecida e a
concentração quando seca (SERTÃO, 2005). Assim, seu excesso na solução do solo
provoca a dispersão da argila e, desta forma, acarreta em uma camada adensada
que dificulta o crescimento, respiração, expansão radicular, além da absorção
de água e fixação de CO2 pela planta (TÁVORA et al., 2001).
Portanto,
a salinidade, uma vez que influencia na estrutura do solo, reduz também a sua
capacidade de armazenar água e, consequentemente, sua absorção.
Neste
caso, afeta também a absorção dos nutrientes em que o mecanismo de contato
íon-raiz ocorre em solução aquosa (fluxo em massa) e, assim, interferindo na
absorção principalmente de N, S, Ca e Mg (PRADO, 2008), efeito semelhante ao
observado em solos compactados (NOVAIS & MELLO, 2007). Deste modo, a
salinidade pode afetar a fisiologia das plantas cultivadas devido às alterações
químicas e físicas do solo (SERTÃO, 2005).
2.2.Processo de Salinização dos Solos
A
salinização induzida pelo homem é mais perceptível em ambientes de elevada
evapotranspiração e baixa precipitação pluviométrica no curso do ano,
manifestando-se de forma mais acentuada nessas áreas em decorrência do manejo
inadequado da irrigação, onde o controle da drenagem não é feito ou feito de
forma ineficiente (OLIVEIRA, 1997).
Os
solos afetados por sais, também conhecidos por solos halomórficos ou solos
salinos e sódicos, são solos desenvolvidos em condições imperfeitas de
drenagem, que se caracterizam pela presença de sais solúveis, sódio trocável ou
ambos, em horizontes ou camadas próximas à superfície. Quando a concentração de
sais se eleva ao ponto de prejudicar o rendimento econômico das culturas,
diz-se que tal solo está salinizado (RIBEIRO, 2010; MAJOR & SALES, 2012).
A
gênese de solos salinos tem uma alta relação tanto com a formação geológica
predominante na paisagem como com a drenagem. Logo, a origem dos problemas de
salinidade se confunde com a própria formação dos solos (RIBEIRO et al., 2003;
FIGUEIRÊDO, 2005). Daker (1988) destaca que os sais resultantes dos minerais
primários, encontrados nos solos e nas rochas, são transportados pelas águas e
armazenados nos solos acumulando-se à medida que a água é evaporada ou
consumida pelas culturas, originando o processo de salinização.
No
seu processo de salinização, ocorre a transformação dos minerais primários,
ricos em cátions como Ca2+, Mg2+, K+ e Na+, em minerais de argila do tipo 2:1,
principalmente montmorilonita. Em locais de clima semiárido esta transformação,
embora lenta devido aos longos períodos sem chuvas, libera da estrutura
cristalina dos minerais parte destes cátions e contribui para a manutenção de
suas concentrações em níveis relativamente elevados, tanto no complexo de troca
quanto na solução do solo. Nos períodos secos estes cátions afloram à
superfície dos agregados do solo, principalmente na camada mais superficial,
chegando a formar uma crosta de sais cristalizados (HOLANDA et al., 2001).
Os
fatores diretamente responsáveis pela salinização dos solos em áreas irrigadas
são o uso de água de irrigação com alta concentração salina, elevação do lençol
freático por causa do manejo inadequado de irrigação, ausência ou deficiência
de drenagem, elevação do lençol freático em decorrência da perda de água por
infiltração nos canais e reservatórios e, ou, acumulação de água de irrigação
nas partes mais baixas do terreno (GHEYI et al., 1997).
Sem
um manejo adequado de água-solo-salinidade, a irrigação tem levado a
salinização e sodificação de extensa área semiárida do Nordeste brasileiro,
aproximadamente 25% das áreas irrigadas dessa região encontra-se salinizada
(GHEYI, 2000; BARROS et al., 2005). Embora o sal não é nem mutagénico ou
carcinogénico, e não é geralmente considerado tóxico para os animais, existem
numerosos efeitos ambientais associados com o excesso de sal no solo. Estes
incluem a degradação das propriedades químicas e físicas do solo, a qualidade
das águas subterrâneas e diminuição do crescimento de plantas prejudicada
(GHEYI et al., 1997; QADIR et al., 2003).
Outro
fator também responsável pela indução da salinidade é a aplicação excessiva de
fertilizantes com índice salino elevado, tais como cloreto de potássio, nitrato
de amônia e formulações comerciais, de forma indiscriminada e excessiva, que
pode induzir a um incremento da pressão osmótica na solução do solo,
prejudicando a germinação das sementes e o desenvolvimento de plantas muito
jovens (FIGUEIRÊDO, 2005; WANDERLEY, 2009).
3.
A qualidade da água e seus efeitos no solo
A
intensa pressão que os recursos naturais vêm sofrendo, em consequência do
aumento populacional e do crescimento econômico, impulsiona o desenvolvimento
de pesquisas que subsidiem os instrumentos de gestão para adequado controle e
proteção dos sistemas ambientais.
Boso
(2016) discorre que a água é um recurso essencial em nossas vidas. De maneira
geral a mesma é de suma importância para as áreas da saúde, da alimentação, da
irrigação, do meio ambiente dentre outros setores. Sua qualidade se define de
acordo com suas propriedades biológicas, com o estado que se encontra e com
seus efeitos gerados aos usuários.
De
acordo com Santos et al (2014), um dos momentos mais importantes da ação do
homem como agente modificador do espaço é aquele no qual deixa de ser nômade e
descobre que pode usar a terra para o seu sustento, marcando definitivamente, o
seu papel como agente transformador. Diante das mudanças ocorridas com o uso
acelerado da terra e a preocupação cada vez mais crescente com os impactos
provocados por este uso, hoje o homem, através das tecnologias, passa a
construir importantes ferramentas de análise desses impactos, exemplo dos
satélites e dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG), auxiliam no
mapeamento e monitoramento do meio natural e das ações humanas sobre o espaço.
Segundo
Pereira (2004) a água pode ter sua qualidade afetada pelas mais diversas
atividades do homem, sejam elas domésticas, comerciais ou industriais. Cada uma
dessas atividades gera poluentes característicos que têm uma determinada
implicação na qualidade do corpo receptor. A poluição pode ter origem química,
física ou biológica, sendo que em geral a adição de um tipo destes poluentes
altera também as outras características da água.
Desta
forma, o conhecimento das interações entre estas interações é de extrema
importância para que se possa lidar da melhor forma possível com as fontes de
poluição. Em geral, as consequências de um determinado poluente dependem das
suas concentrações, do tipo de corpo d´água que o recebe e dos usos da água.
Ainda
segundo Boso, (2016) o nível da salinidade é um parâmetro limitativo no
progresso de determinadas culturas. Seus efeitos estão relacionados com as
características do solo, ocasionado assim alterações na estrutura, na
permeabilidade e arejo do solo, danificando a evolução das plantas.
São
poucas as plantas que utilizam certa quantidade relevante de sais, o que
acarreta o crescimento do teor dessa característica no solo por meio de
irrigações sucessivas. Entretanto, não se podem definir limites fixos da
concentração de salinas permitidas para a água destinada a irrigação, pois há
alterações na tolerância de salinidade entre espécies plantas.
3.1.Efeito dos sais sobre o solo
Os
problemas causados no desenvolvimento da produção agrícola devido ao processo
de salinização do solo são crescentes em todo o mundo, principalmente nas
regiões áridas e semiáridas. Nessas regiões, a falta de precipitação em níveis
adequados ao longo do ano e a grande taxa de evapotranspiração são fatores
primários determinantes para a salinização do solo (CUNHA etal., 2014). Aliado
a estes fatores primários, também temos a ação do homem como um possível agente
salinizador do solo quando este não desenvolve um manejo adequado do processo
irrigatório e/ou a drenagem não é feita de modo efetivo (GUARÇONI; SILVA,
2008).
Dentre
as maiores ameaças para a produção agrícola temos a salinidade, que dificulta a
absorção de água pelas plantas, ocasionando grandes prejuízos de ordem
econômica, e a sodicidade, que dificulta a disponibilidade de água devido à
presença do sódio que modifica a estrutura do solo (COSTA et al., 2004;
PEDROTTI et al., 2015).
As
partículas que compõem o solo apresentam a capacidade de adsorver cátions em
sua superfície, logo o processo de salinização envolve um aumento na
concentração de sais solúveis de sódio (Na), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e
potássio (K), que irão liberar os cátions Na+, Ca2+, Mg2+ e K+. Os cátions
adsorvidos podem ser trocados por outros que estejam dissolvidos na solução do
solo, em um fenômeno chamado de capacidade de troca catiónica (CTC) (GUARÇONI;
SILVA, 2008).
Os
solos afetados por sais são caracterizados de acordo três critérios a saber: a
condutividade elétrica do extrato de saturação (CEES), a percentagem de sódio
trocável (PST) e o potencial hidrogeniônico (pH). De acordo com esses
critérios, temos as seguintes classificações propostas pelo Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos: solos salinos, sódicos e salino-sódicos
(RICHARDS,1970 apud GUARÇONI; SILVA, 2008).
Tabela 1.
Classificação dos solos afetados por sais |
|
|||
Critérios |
Tipos de
solos |
|
||
Normal |
Salino |
Sódico |
Salino-sódico
|
|
CE (dS/m
25°C |
< 4 |
4 |
< 4 |
4 |
PST (%) |
<15 |
< 15 |
15 |
15 |
pH |
4 a 8,5 |
8,5 |
8,5 a 10 |
Próximo de
8,5 |
Fonte: Richards, 1970
Os
solos salinos apresentam quantidades esbranquiçadas de sais em sua superfície.
Neste tipo de solo, é possível diminuir o excesso de sais por lixiviação, que
consiste na “lavagem” por meio de uma drenagem adequada. Os solos sódicos são
percebidos visualmente por meio de manchas de álcali impermeáveis (GUARÇONI;
SILVA, 2008) e podem ser recuperados com a aplicação de condicionadores ou por
meio da subsolagem (BERNARDO, 1995; HOLANDA, 2000 apud COSTA et al., 2004).
Entretanto, os solos salino-sódicos trazem mais prejuízos para o
desenvolvimento adequado da maioria das plantas do que os dois tipos
anteriores. Isso ocorre porque a quantidade de sódio trocável é grande o
suficiente para expandir as partículas do solo, dificultando enormemente a permeabilização,
fazendo com que a planta encontre dificuldades absorver água e os nutrientes
necessários para seu desenvolvimento (PEDROTTI et al., 2015).
Para
desenvolver uma área capaz de produzir culturas adequadamente é importante que
o conhecimento sobre as características do solo, as melhores opções de
irrigação e a forma de corrigir possíveis imperfeições do solo são
fundamentais.
4.
Efeito dos sais nas plantas
A
salinização do solo é um problema muito grave, que pode afetar as plantas de
várias formas, um dos principais problemas causados é a redução do potencial
osmótico da solução do solo, diminuindo assim a disponibilidade de água e
acentuando a toxicidade de certos íons às plantas (BERNARDO, 1996 apud SANTANA,
2007). Quando se tem um acúmulo de sais na rizosfera às plantas serão afetadas
diretamente no seu crescimento e desenvolvimento, provocando um decréscimo de
produtividade e, em casos mais severos, podendo levar a um colapso da produção
agrícola. Isso ocorre em razão do aumento do potencial osmótico da solução do
solo, pelos efeitos tóxicos dos íons específicos e pela alteração das condições
físicas e químicas do solo (LIMA, 1998 apud SANTANA, 2007).
Em
seu trabalho, Coelho (2013) avaliou a tolerância de genótipos de sorgo
forrageiro à salinidade, visando à inclusão desses genótipos em sistemas de
produção que utilizam água de baixa qualidade para irrigação, os resultados
mostraram que os genótipos de sorgo forrageiro estudados apresentaram
características semelhantes quanto às reduções no crescimento e produtividade,
bem como no acúmulo e distribuição dos macronutrientes em folhas, colmos e
raízes. Também se verificou uma moderada tolerância à salinidade desses
genótipos.
A
redução no crescimento é um dos mais notáveis efeitos da restrição hídrica
sobre as plantas, principalmente causada por uma inibição da elongação da folha
e caule quando o potencial hídrico decresce, sendo esse efeito diferente entre
espécies. Silva (2001) em seu trabalho avaliou as características fisiológicas
de três gramíneas: Echinochloa pyramidalis (canarana), Setaria anceps
(setária), Paspalum paniculatum (paspalo) em resposta à deficiência hídrica.
Foi avaliado o potencial hídrico foliar; eficiência fotoquímica do fotossistema
II; teor de aminoácidos, amido, proteínas, açúcares solúveis totais (AST),
açúcares redutores (AR), em plantas cultivadas em condições de casa-devegetação
submetidas a diferentes condições de oferta de água (com rega e sem rega). O
potencial hídrico foliar mostrou-se sensível à baixa disponibilidade de água,
em geral, as espécies apresentaram um aumento nos teores de AR e AST em
condições de deficiência hídrica, indicando, assim, que essas espécies
apresentam uma maior capacidade de suportar os danos causados por esse déficit.
Segundo
Santana et al. (2007) as culturas respondem diferentemente à salinidade,
podendo se apresentar desde extremamente sensíveis em níveis de salinidade
relativamente baixos ou até produzir rendimentos aceitáveis em condições
altamente salinas. Em seu trabalho, Cruz (2006) avaliou a influência da
salinidade sobre o crescimento e a absorção e distribuição do Na e Cl e dos
macronutrientes em plântulas de Maracujazeiro-amarelo, durante 50 dias de
crescimento sob condições salinas. Foram utilizados três níveis de NaCl (0, 50
e 100 mmol. L‒1). Observou-se que a altura, o número de folhas, a área foliar e
a massa seca de todas as partes da planta foram significativamente reduzidas
pela salinidade, concentração dos íons Na+ e Cl‒ aumentaram com o acréscimo da
salinidade no meio de cultivo, porém, foram parcialmente retidos na raiz, no
caso do Cl‒, e nas folhas mais velhas, no caso do Na+. Dada a pequena redução
nas características de crescimento, concluiu-se que o Maracujazeiro-amarelo é
uma espécie moderadamente tolerante ao estresse salino.
5.
Recuperação de Solos Salinizados
O
termo “recuperação de solos salinizados” refere-se a métodos ou técnicas que
são utilizadas com o propósito de remover os sais solúveis da zona radicular
das plantas, incluindo assim as seguintes práticas: remoção mecânica, lavagem e
lixiviação (ABROL et al., 1988). Barros et al. (2004) acrescentam ainda que o
termo também refere-se à diminuição do teor de sódio trocável através do seu
deslocamento do complexo de troca pelo cálcio antes do processo de lixiviação.
Muitos
países em desenvolvimento enfrentam sérios problemas com a poluição do solo e,
principalmente, com toda problemática relacionada com a recuperação desses
solos que, entre outros fatores, é extremamente dependente da situação socioeconômica
de cada país (AGUIAR, 2006). A salinização dos solos apresenta impactos
ambientais e econômicos, visto que reduz a produção agrícola, causa geralmente
o abandono da área afetada, trazendo consequentemente prejuízos à economia
regional (MELO et al., 2008). A recuperação desses solos é imprescindível para
que eles sejam reincorporados ao sistema produtivo (MELO et al., 2008; TAVARES
FILHO et al., 2012).
A
recuperação de solos degradados por sais exige estudos e se baseia
principalmente nas técnicas de: irrigação, lixiviação, correção, gessagem,
pousio, uso de plantas resistentes a sais, todas associadas às práticas de
drenagem adequadas (OLIVEIRA, 1999; RIBEIRO et al., 2003).
As
técnicas para recuperação de solos salinizados podem ser fundamentais ou auxiliares.
As primeiras são a lavagem dos sais e a aplicação de melhoradores químicos. Já
as últimas, são aquelas aplicadas para tornar as fundamentais mais eficientes
porque agem diretamente sobre as propriedades do solo, sendo citadas: aração
profunda, subsolagem e aplicação de resíduos orgânicos (CAVALCANTE et al.,
2010).
Torna-se
importante destacar que algumas práticas culturais podem auxiliar na
recuperação de solos salinizados, tais como: utilização de espécies herbáceas
com raízes profundas; uso de gramíneas com grande densidade de radículas que
permitem aumentar a porosidade do solo; formação de cobertura morta na
superfície do solo e, ou, a incorporação desta matéria orgânica ao solo; e
adubação verde (HOLANDA et al.,2001).
Dentre
as técnicas de recuperação de solos salino-sódicos, a aplicação de corretivos
químicos e a lavagem do solo são bastante utilizadas, por atuarem diretamente
na correção dos problemas desses solos em relação às plantas. As demais
técnicas ou práticas utilizadas são consideradas auxiliares tais como:
drenagem, aração, aplicação de resíduos orgânicos, sistematização e
nivelamento, etc, por agirem indiretamente sobre algumas propriedades do solo
que facilitam a recuperação. No processo de recuperação, comumente são
utilizadas várias dessas técnicas, de forma simultânea ou sucessiva.
6.
Como evitar e controlar a salinização
Os
problemas de salinização em solos são conhecidos há muito tempo, mas sua
magnitude e intensidade têm aumentado, resultando na expansão alarmante da área
de solos degradados por salinidade e sodicidade. Estes problemas são
consequências do uso de terras marginais e do manejo inadequado da irrigação, e
apesar da expansão de áreas com esses problemas, procedimentos de recuperação
ainda são pouco utilizados (SOUSA, 2007).
Os
efeitos da salinidade e sodicidade nos solos podem afetar adversamente o
balanço ecológico de uma área. Entre os impactos causados nesses solos pode-se
citar: baixa produtividade agrícola e altos custos de produção; aumento do
escoamento superficial e das enchentes; pequena recarga dos aqüíferos;
desbalanço ecológico; piora nos índices de saúde pública; dentre outros
(RIBEIRO et al., 2009).
Assim,
práticas de manejo que sejam mais apropriadas para controlar a salinidade dos
solos em longo prazo são de fundamental importância em um programa de cultivo
em solos afetados por sais, principalmente visando sua sustentabilidade e
alternativas de uso e recuperação (LEAL et al., 2008).
Todo
solo situado em regiões climáticas caracterizadas por baixas precipitações e
altos déficits hídricos climáticos, e que ao mesmo tempo possua drenabilidade
deficiente a nula, apresenta forte tendência a se tornar salino num curto
período de tempo, principalmente pelo de as plantas ali cultivadas somente
remover a água do solo, ficando a maior parte dos sais retidos no solo, sendo
necessária para reverter a situação a aplicação de técnicas de drenagem
artificial (BATISTA et al., 2002).
Em
solos afetados por sais, são alcançados resultados promissores de recuperação
com a instalação de um sistema adequado de drenagem subterrânea e utilização de
lâminas de lavagens de recuperação, ou mesmo deixando-se que se recupere
naturalmente pela lavagem causada pelas águas das chuvas (BATISTA et al., 2002;
DUARTE et al., 2007). Em se tratando de solos argilosos, estudos mostram que a
lavagem através de inundação por período longo é menos eficiente que quando são
feitos inundações periódicas, onde o solo é inundado por certo período de tempo
e a seguir deixado secar. Este processo tende a promover uma melhoria na
estrutura do solo com melhoria da condutividade hidráulica (BATISTA et al.,
2002).
Em
solos sódicos há necessidade de instalação de drenos subterrâneos, aplicação de
corretivos que provoquem uma recuperação na estrutura do solo, e também
aplicação de lâminas de lavagens, principalmente de parte do sódio existente no
solo. Diversos compostos químicos são adotados na recuperação de solos
classificados como sódicos, dependendo da disponibilidade no mercado, do preço,
da eficiência do produto e do tipo de solo e seus componentes químicos. São
agrupados em três grupos: a) Sais de cálcio solúveis (cloreto de cálcio, CaCl2)
e gesso (CaSO4.2H2O), b) Ácidos ou formadores de ácido: enxofre, ácido
sulfúrico, sulfato de ferro ou alumínio e óxido de cálcio, c) Sais de cálcio de
baixa permeabilidade: carbonato de cálcio e, derivados de fábrica de açúcar. Os
produtos mais comumente empregados para substituir o sódio do complexo do solo
por cálcio são o gesso (CaSO4.2H2O) e o enxofre (ABROL et al., 1988; BATISTA et
al., 2002).
Observou-se
que a salinidade esta dentre as maiores ameaças para produção agrícola, seus
efeitos nos solos são tão grandes ao ponto de mudar sua estrutura, aumentando a
quantidade de sódio trocável o suficiente para expandir suas partículas
dificultando a permeabilização, prejudicando assim a absorção de agua e
nutrientes pelas plantas. A salinidade causa desequilíbrio nutricional nas
plantas afetando diretamente no seu crescimento e desenvolvimento, causando
baixa produtividade das culturas agrícolas.
As
ações de monitoramento, prevenção e recuperação devem estar juntas para
minimizar os efeitos deletérios do excesso de sais no solo, evitando assim a
perda de solos agricultáveis e elevando-se a possibilidade de expansão de
atividades agrícolas para áreas naturalmente salinizadas.
Tendo-se
em vista o que foi discorrido ao longo deste estudo, pode-se concluir que é
essencial o estudo e monitoramento da água e dos solos, para que possa
encontrar soluções para os problemas da salinização e estabelecer estratégias
de manejo sustentável, visando subsidiar práticas de conservação do solo e da
água, a fim de manter e/ou melhor, a qualidade dos recursos naturais e da
produção da cultura agrícola que se pretende trabalhar.
ABROL, I. P.; YADAV, J. S. P.; MASSOUD, F. I.
Salt-affected soils and their management. United Nations, Rome, FAO
Soils Bull. 39. 1988.
AGUIAR,
C. R. C. 2006. Desempenho de Soja e Braquiária na Fitorremediação de Solos Contaminados
com Petróleo. 109f. Dissertação (Mestrado em Saneamento Ambiental) Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro.
AYERS,
R.S.; WESTCOT, D.W. A qualidade da água na agricultura. Campina Grande: UFPB, 1991.
218p.
BARROS,
M. F. C.; FONTES, M. P. F.; RUIZ, H. A.; ALVAREZ, V. V. H. 2004. Recuperação de
solos afetados por sais no Nordeste do Brasil pela aplicação de gesso de jazida
e calcário. R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental, v.8, n.1, p.59-64.
BERNARDO,
S. Manual de irrigação. 6. ed. Viçosa: UFV, 1996. 596 p.
BOSO,
et al. Períodico Eletrônico: Fórum ambiental de Alta Paulista. Análise dos
parâmetros da qualidade da água destinada a irrigação. v. 12, n. 6, 2016.
DAKER,
A. 1988. A água na agricultura: Irrigação e drenagem. 7 ed. Rio de Janeiro, RJ:
Freitas Bastos, 543p.
COELHO,
D. S. Influência da salinidade nos aspectos nutricionais e morfofisiológicos de
genótiposde sorgo forrageiro. Trabalho apresentado ao Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Agrícola da Universidade Federal do Vale do São Francisco, 2013.
CRUZ,
J. L.; PELACANI, C. R.; COELHO, E. F.; CALDAS, R. C.; ALMEIDA A. Q.; QUEIROZ J.
R. Influência da salinidade sobre o crescimento, absorção e distribuição de sódio,
cloro e macronutrientes em plântulas de maracujazeiro-amarelo. Bragantia,
Campinas, v.65, n.2, p.275-284, 2006.
GUARÇONI,
M. A.; SILVA, J.G.F. Solos afetados por sais e qualidade da água para irrigação.
Vitória: INCAPER, 2008. p.7-15
GHEYI,
H. R.; QUEIROZ, J. E.; MEDEIROS, J. F. 1997. Manejo e controle da salinidade na
agricultura irrigada. Campina Grande: UFPB/SBEA, 383p.
HOLANDA,
F. S. R.; MARCIANO, C. R.; PEDROTTI, A.; AGUIAR, J. F. de; SANTOS, V. P. 2001.
Recuperação de áreas com problemas de salinização. Informe Agropecuário, Belo
Horizonte, v. 22, n. 210, p. 57-61.
MAJOR, I.; SALES, J. C. 2012. Mudanças
Climáticas e Desenvolvimento Sustentável.
MELO,
M. R.; BARROS, C. F. M.; SANTOS, M. P.; ROLIM, M. M. 2008. Correção de solos
salino-sódicos pela aplicação de gesso mineral. R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental,
v.12, n.4, p.376-380.
LIMA,
V. L. A. Efeitos da qualidade da água de irrigação e da fração de lixiviação
sobre a cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) em condições de lisímetro
de drenagem. 1998.
PEDROTTI,
Alceu. et al. Causas e consequências do processo de salinização dos solos. Revista
Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, Santa Maria (RS), v.19,
n- 2, p.1308-1324, 2015.
PEREIRA.
R. S. Identificação e caracterização das fontes de poluição em sistemas
hídricos. Revista Eletrônica de Recursos Hídricos. IPH-UFRGS. v. 1, n. 1. p. 20-36. 2004.
QADIR, M.; STEFFENS, D.; YAN , F.; SCHUBERT , S. 2003.
Sodium Removal from a Calcareous Saline-Sodic Soil through Leaching and Plant
Uptake During Phytoremediation. Land Degradation and Development.,v.14,
p.301-307.
RIBEIRO,
M. R.; BARROS, M. F. C.; FREIRE, M. B. G. S. 2009. Química dos solos salinos e
sódicos. In: MELO, V. F.; ALLEONI, L. R. F. (eds.). Química e mineralogia do
solo. Parte II – Aplicações. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo,
p.449-484.
RIBEIRO,
M. R. 2010. Origem e Classificação dos Solos Afetados por Sais. In: GHEYI, H.
R.; DIAS, N. S.; LACERDA, C. F. (Eds.). Manejo da Salinidade na Agricultura:
Estudos Básicos e Aplicados. Fortaleza,
INCTSal. p.11-19.
RIBEIRO,
M. R.; FREIRE, F. J.; MONTENEGRO, A. A. A. 2003. Solos halomórficos no Brasil:
Ocorrência, gênese, classificação, uso e manejo sustentável. In: CURI, N.;
MARQUES, J. J.; GUILHERME, L. R. G.; LIMA, J. M.; LOPES, A. S; ALVAREZ, V. H.
(eds.). Tópicos em Ciência do Solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo, v.3, p.165-208.
OLIVEIRA,
M. 1997. Gênese, classificação e extensão de solos afetados por sais. In:
GUEYI, H. R.; QUEIROZ, J. E.; MEDEIROS, J. F. (Ed.) Manejo e controle da
salinidade na agricultura irrigada. Campina Grande: UFPB, cap.1, p.1-35.
SANTANA,
J. M. CARVALHO J. A. et al. Efeitos da salinidade da água de irrigação na brotação
e desenvolvimento inicial da cana-de-açúcar (Saccharum spp) e em solos com diferentes
níveis texturais. Ciênc. agrotec., Lavras, v. 31, n. 5, p. 1470-1476, 2007.
SANTOS.
E. F. L. P. et al. Geographia Opportuno Tempore. Londrina, v.1, n. 1, p. 68-79, jan./jun. 2014.
SILVA,
S.; SOARES, Â. M.; OLIVEIRA, L.E.M.; MAGALHÃES, P.C. Respostas fisiológicas de
gramíneas promissoras para revegetação ciliar de reservatórios hidrelétricos, submetidas
à deficiência hídrica. Ciência e Agrotecnologia, v.25, n.1, p.124 -133, 2001.
SILVA,
M. V. T.; MEDEIROS, J. F. Evolução da salinidade em solos representativos do
agropólo Mossoró-Assu cultivado com meloeiro com água de deferentes
salinidades. Agropecuária Científica no Semi-Árido, v.7, n.4, p.26-31, 2011.
SOUZA,
M. R. de. Comportamento do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L. CV Eriparza) submetido
a diferentes níveis de salinidade da água de irrigação. 1995.
Comentários
Enviar um comentário